É imprescindível para todo analista político profissional entender as diferenças e semelhanças de uma candidatura a um cargo eletivo em seus posicionamentos sobre questões políticas, econômicas e sociais.
Mas, como analisar de forma rápida e eficiente um grande volume de discursos, entrevistas e sabatinas e compreender as linhas de pensamento e estratégia de campanha de cada candidato(a)? Mais ainda, como fazer uma análise objetiva sobre o que de fato estão falando e estruturar uma leitura coerente sem ficar à mercê de eventuais vieses?
O uso de dados é fundamental para isso e é possível recorrer aos avanços tecnológicos para realização de análises de conteúdo textual de milhares de textos sem a necessidade de ler minuciosamente cada um. Para a sorte dos que precisam de resultados em tempo hábil, há softwares (e gratuitos) que são eficazes em indicar as diferenças e semelhanças e que ajudam a explorar e entender as diferentes estratégias de forma comparativa.
Para evidenciar o potencial dessa possibilidade, analisamos os pré-candidatos à Presidência da República para as eleições de 2022 entre os dias 27 de março e 21 de julho.
Utilizamos uma ferramenta que identifica padrões no vocabulário utilizado, agrupando os termos que mais frequentemente aparecem juntos. Dessa forma, fica perceptível a formação dos assuntos falados e como associá-los a cada candidato.
Esse tipo de visualização ajuda a descobrir quais assuntos estão sendo falados. Cada cor representa um assunto e os assuntos podem estar sendo falados pelas mesmas pessoas, quando estiverem próximos, ou por pessoas diferentes quando estiverem distantes.
Além dessa relação de termos, a ferramenta também permite identificar o posicionamento de cada presidenciável. A análise é simples: quanto mais próximo um candidato está, eles falam do mesmo assunto. Quanto mais distante, menos falam do mesmo assunto.
Parte das falas de Lula até agora estão relacionadas aos encaminhamentos e possibilidades de alianças políticas que possam integrar seu projeto de governo, como o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que é seu parceiro de chapa pelo cargo de vice-presidente, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), que irá disputar pelo governo do Rio de Janeiro, o deputado distrital Leandro Grass (PV), pelo governo do Distrito Federal, além de outros nomes. Há também referências às cidades e estados onde Lula discursou nos últimos meses, com o ex-presidente pontuando a importância de suas gestões para, em especial, o povo nordestino.
Apesar de Lula trazer em seus discursos críticas ao governo federal, a nuvem de palavras destaca termos com sentido mais positivo, como ‘esperança’ e ‘coração’, o que evidencia os esforços do presidenciável em associar sua imagem à possibilidade de solução da crise atual.
Bolsonaro está presente no grupo verde, com menções a atual crise econômica, a alta da inflação, em especial combustíveis, gás de cozinha, energia e itens da cesta básica. Dentro deste espectro, o presidente expõe os esforços de seu governo para reduzir esse efeito na renda familiar dos brasileiros por meio das iniciativas de redução de impostos federais e estaduais.
Por outro lado, o último grupo, o azul, reúne três pré-candidatos também associados à terceira via nas eleições pelo executivo federal. Aqui estão Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Vera Lúcia (PSTU), e ao contrário dos dois anteriores, o discurso destes é mais focado em apresentar propostas para os desafios que afetam o país.
Eles destacam argumentos no campo econômico com predominância dos temas de emprego e renda, mencionam também soluções para áreas do setor produtivo industrial, financeiro e agropecuário. Também apresentam ideias para educação e saúde, com menções ao impacto da pandemia na vida dos brasileiros.
No grupo laranja, aparece em destaque o pré-candidato pelo partido Avante, André Janones, e o do PROS, Pablo Marçal. Os termos mais recorrentes apresentam a crítica a polarização política no Brasil, com os nomes de Lula e Bolsonaro em destaque.
Nesta rápida análise mostramos como é possível compreender aspectos estratégicos de conteúdos extensos em termos estatísticos. Aplicações como essa podem ser adaptadas para diversas formas de conteúdos e assuntos, permitindo análises consistentes que combinam resultados de dados quantitativos com avaliações qualitativas.
Aqui no Ibpad nós ensinamos a fazer análises como essas em nosso curso de Técnicas para Análise de Textos. Agora se você quer saber onde e quando aplicar, nosso curso de Dados para Relações Governamentais é a dica! Você vai aprender como operar ferramentas e a fazer análises que oferecem insights valiosos para sua atuação no mercado.
A coleta foi feita a partir do banco de dados do site escriba.aosfatos.org, ferramenta para transcrição de áudios em português que pertence ao portal Aos Fatos. Para a realização deste artigo, utilizou-se quase 30 discursos dos últimos quatro meses e a ferramenta de análise Iramuteq, um software de análise textual gratuito que funciona como uma interface para as linguagens de programação, R e Python, e auxilia no processamento de dados para pesquisa qualitativa de textos.