Os meses de julho e agosto de 2024 trouxeram consigo um aumento significativo nas queimadas e incêndios florestais no Brasil, reacendendo discussões políticas e ambientais no país. Esse cenário já era esperado, considerando os padrões climáticos e o histórico dos últimos anos, mas a maneira como as autoridades brasileiras reagiram ao tema, especialmente nas redes sociais, mostra uma mudança interessante em comparação com 2023.
Em 2023, entre 1º de julho e 31 de agosto, foram registradas 1,1 mil publicações relacionadas a queimadas e incêndios feitas por 379 autoridades nas redes sociais. Neste mesmo período em 2024, o número de publicações aumentou para 1,7 mil, com 501 autoridades abordando o tema. Essa diferença de 600 postagens reflete a intensificação do debate público sobre o meio ambiente.
A análise comparativa revela que em 2024, a discussão tornou-se mais equilibrada entre os diferentes espectros políticos. Enquanto em 2023 a direita e centro-direita lideravam as publicações com 48% do total, em 2024 esse número caiu para 45%, praticamente empatado com a esquerda e centro-esquerda, que subiram de 38% para 45,5%.
Quando analisamos as publicações dos partidos políticos, observamos mudanças significativas na frequência e na postura dos principais atores em relação ao tema. Em 2023, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL) lideraram as publicações sobre queimadas, com 14% e 13% do total, respectivamente. No entanto, em 2024, o PT aumentou consideravelmente sua presença, representando 22% das publicações, enquanto o PL manteve-se relevante com 15%, mas ainda assim atrás do PT.
Outro destaque é o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que passou de 5% das publicações em 2023 para 9% em 2024, reforçando seu discurso ambientalista. Por outro lado, partidos tradicionais como o PSDB e o MDB, que mantinham certa relevância em 2023 (com 7% e 6% das publicações, respectivamente), diminuíram sua participação no debate.
O debate sobre as queimadas e incêndios florestais em 2024 refletiu a polarização política do Brasil. Em 2023, a direita e centro-direita, especialmente figuras da oposição ao governo Lula, usaram as redes sociais para criticar duramente a gestão atual, comparando-a com o governo anterior de Jair Bolsonaro. A retórica predominante entre os parlamentares de direita foi que as críticas ao governo Bolsonaro, por sua inação diante das queimadas, foram injustas. Eles argumentam que, agora, sob a gestão de Lula, os mesmos fenômenos estão sendo atribuídos a causas naturais, o que, na visão deles, revela uma hipocrisia da esquerda.
Exemplos dessas críticas vieram de figuras como a deputada federal Carol de Toni (PL-SC) e o senador Magno Malta (PL-ES), que apontaram o aumento das queimadas e do desmatamento como falhas do governo Lula. A deputada Carol de Toni, por exemplo, usou suas redes para afirmar que as “narrativas e máscaras” da esquerda estavam caindo, sugerindo que o campo adversário estava falhando em sua promessa de proteção ambiental.
Por outro lado, parlamentares da esquerda e centro-esquerda, como os ligados ao PT e PSOL, intensificaram seu discurso sobre a importância da preservação ambiental, tentando desviar a narrativa das críticas e focando nas políticas que o governo atual tem implementado para enfrentar os desafios ambientais.
Neste ano, uma das narrativas predominantes adotadas pela esquerda é a crítica ao agronegócio. As publicações afirmam que ele é o responsável pelas queimadas e pelo desmatamento, agravando a crise climática. Assim, defendem mudanças urgentes para um modelo agrícola mais sustentável e menos destrutivo.
Entre 2023 e 2024, Marina Silva passou de uma abordagem voltada para a reativação de políticas e cooperação internacional para uma estratégia mais integrada e preventiva, destacando o manejo do fogo e a adaptação às mudanças climáticas. Em contraste, a narrativa amplificada nas redes sociais, especialmente pelo presidente Lula, sugere que os incêndios recentes, sobretudo em São Paulo, são resultado de ações intencionais, exigindo uma investigação rigorosa pela Polícia Federal.
Além disso, o governo federal, liderado pelo presidente Lula, respondeu às críticas intensificando suas ações, como a proposta de reuniões com governadores para ações conjuntas de combate às queimadas e o destaque ao Plano Clima como estratégia de longo prazo para enfrentar as mudanças climáticas.
O aumento do número de publicações sobre queimadas e incêndios nas redes sociais das autoridades brasileiras em 2024, em comparação com 2023, reflete não só a gravidade do problema, mas também a importância crescente do tema ambiental no debate político nacional. A polarização política, evidente nas críticas e defesas nas redes, mostra que o meio ambiente continua a ser um campo de batalha entre os diferentes espectros políticos.
Acompanhe nossos próximos artigos para mais análises sobre o impacto das questões ambientais na política brasileira e como as autoridades estão lidando com esses desafios em um cenário cada vez mais polarizado!