O ano é 2014. Começa a campanha. Muita correria, agendas apertadas, eventos, definição de santinhos, temas, pautas, equipes, e, claro, também muitas surpresas.
De repente, o candidato a senador por um importante estado da federação, muito orgulhoso de sua imensa base nas redes sociais e seus muitos seguidores recebe a informação: numa das redes mais relevantes, dos seus centenas de milhares de seguidores, apenas 9 mil eram do seu estado.
O caso acima é real. Ninguém sabia como aquilo tinha acontecido, já que o candidato havia ocupado cargos importantes no seu estado, mas os números não mentem.
Praticamente toda a base dele era pulverizada pelo Brasil; fora do alcance, portanto, de uma eleição local.
Tudo fruto, soube-se depois, de uma tática equivocada de conquistar seguidores de qualquer maneira, apenas para ter volume nas redes. Aprenderam, da pior maneira, que só volume, sem estratégia, não serve para nada.
A história do nosso candidato ilustra um dos muitos casos que podem comprometer uma eleição. Saber com quem você fala e onde estão seus eleitores é fundamental para elaborar campanhas eleitorais.
Do contrário, corre-se o risco de falar sobre o que não interessa ao seu público ou pior: falar para ninguém.
“Uma campanha eleitoral tem o objetivo de vencer uma eleição. E se vence a eleição angariando votos. Os dados e os mapas são ferramentas para pensar ações e estratégias para angariar esses votos. Com os mapas, consegue-se conhecer o território que está sendo disputado, para tomar decisões mais acertadas e direcionar a campanha para locais onde o candidato, ou candidatos, são mais aceitos. Consegue-se evitar áreas onde não são bem aceitos”, afirma Ricardo Gonçalves, doutor em Ciência Política e professor do Instituto Brasileito de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD).
Ele explica que o uso de dados e mapas em campanhas eleitorais não é algo novo mas que, até há bem pouco tempo, apenas candidatos com muitos recursos e grandes equipes de especialistas conseguiam bancar essa estrutura.
Nos anos 1980, os mapas eram pintados à mão e mesmo no século 21 ainda era bem complicado fazer essas análises e cruzamentos.
Em 2003, para se fazer um estudo, foi necessário digitalizar mapas rodoviários do Brasil e trazer especialistas de Washington, que desenvolveram um software específico para o trabalho.
Hoje, o mesmo trabalho pode ser feito em 20 minutos, por um único analista.
“Até vinte anos atrás, essas metodologias, esses dados, eram muito restritos a universidades de ponta, a quem tinha acesso a grandes computadores e softwares caros. Essas técnicas foram ficando mais acessíveis para campanhas menores, regionais. Os dados são mais fáceis de conseguir hoje em dia e estão sistematizados de forma mais simples. Consegue-se muitos dados abertos e com ótimos softwares gratuitos e cada vez mais fáceis de serem utilizados. É uma técnica cada vez mais acessível para campanhas menores e que não tenham tanto orçamento. Hoje, um único analista consegue desenvolver projetos de mapas eleitorais com facilidade”, afirma o especialista.
No IBPAD, Ricardo é o responsável pelo curso de Dados e Mapas para as Eleições 2022, no qual ensina justamente como utilizar as ferramentas corretas para coleta de dados, seu armazenamento, cruzamento e, finalmente, a análise de dados e sua distribuição espacial com objetivo eleitoral. Um conhecimento decisivo em uma campanha eleitoral profissional.