Search

Análise política profissional precisa de método e conhecimento

Saber como o eleitor define seu voto é fundamental para compreender as movimentações políticas no dia a dia

É comum ouvir analistas políticos dizerem que “não falta emoção” no Brasil e que entender o que acontece aqui não é para amadores. É verdade que a montanha russa da política brasileira revela, todos os dias, surpresas muitas vezes inimagináveis. Analisá-la, principalmente se for de forma profissional e constante, exige método e conhecimento. Principalmente se o objetivo for compreender como o comportamento dos políticos afeta outro, daquele que é, no fim das contas, o seu maior “cliente”: o eleitor.

Ao contrário do que se imagina, o eleitor possui padrões de comportamento que podem ser analisados e dimensionados, sob algumas variáveis. É o que explica o cientista político e professor do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, Pedro Mundim, responsável pelo curso “Entenda a Lógica do Voto”.

 

A Ciência do Voto

“Por mais que existam características específicas dos eleitores, que a gente tenta o tempo todo mapear com pesquisas feitas da maneira correta, baseada em preceitos científicos, existem também algumas regras gerais que se aplicam ao eleitor independente do local onde ele está. Por isso essas teorias da ciência do voto acabam sendo tão importantes e poderosas para a gente poder fazer um trabalho de análise política competente”, explica.

Mundin destaca as várias correntes que buscam explicar o comportamento dos eleitores, sejam elas sociológicas, econômicas, racionais, emocionais ou psicológicas. Todas juntas, formam o processo de decisão do voto.

 

É a economia, estúpido?

Um lugar comum entre analistas é citar a célebre frase “é a economia, estúpido”, do marqueteiro do ex-presidente Bill Clinton, James Carville, para dizer que é a economia o fator determinante na hora de decidir o voto. Para o cientista político, a economia pode ser o fator determinante, como foi em 1992 para o então candidato democrata nos Estados Unidos, mas isso não é uma regra.

“Quando ele falou isso, em 1992, ela casava perfeitamente com o contexto que a eleição norte-americana estava vivendo. Mas não necessariamente é sempre “a economia, estúpido”, diz o professor, que lembra outros contextos eleitorais norte-americanos em que a economia não foi protagonista, como recentemente, em que a “guerra cultural” de Donald Trump deu o tom das campanhas.

 

Em quatro anos, tudo pode mudar

Trazendo para a realidade brasileira, Mundim cita outros exemplos de mudança no peso que a economia teve na balança.

“Para dar um exemplo do Brasil, em 2002, cerca de 40% das pessoas diziam que o desemprego era o maior problema do país. Ou seja: uma pauta econômica. Em 2006, já não era mais o desemprego. Inclusive porque o Brasil estava num período econômico mais robusto. Qual era a pauta? Era a corrupção. Então, a frase faz sentido, mas eu acho que ela tem que ser entendida dentro de um contexto específico, de 1992, que elegeu o Clinton.”

O contexto pode mudar, mas as linhas de raciocínio servem para compreendê-lo e saber por onde vai caminhar o eleitor. Foi o que Carville fez em 1992 e resumiu numa frase.